sexta-feira, 18 de abril de 2014

Edvaldo Santana - Tá Assustado? (1995)

Neste CD, podemos ouvir uma parceria de Leminski com Edvaldo Santana, a canção O Deus.

"Inicialmente, apareceu para o grande público paulista, em 1976, quando lançou o LP "Matéria-prima", pela gravadora Chanteclair.
No ano de 1978 gravou o LP "Entranhas do horizonte", lançado pela gravadora CBS.
No ano de 1985, participou da coletânea "Movimento popular de arte", que reuniu diversos autores novos. Por essa época, participou do programa "Ensaio", da TV Cultura de São Paulo.
Em 1993, a gravadora Camerati lançou em LP e CD o disco "Lobo solitário". Deste disco, destacaram-se duas composições suas que fizeram razoável sucesso, entre elas, "A Rússia pegou fogo na Sapucaí" e "Sabonete". Por essa época, participou do projeto "Novo Canto", de São Paulo, ao lado de Arnaldo Antunes, Djavan, entre outros. No ano seguinte, a Revista Áudio News lançou o CD "Vanguarda da música popular brasileira". Neste disco também participaram Grupo Batacotô, Paula Morelenbaum, Tetê Espíndola, José Miguel Wisnik, Carlos Careqa, Bocato, Eliete Negreiros, Arrigo Barnabé e Edvaldo Santana. No CD participou com as composições "A Rússia pegou fogo na Sapucaí" e "Sabonete".
No ano de 1995, a gravadora Velas lançou o CD "Tá assustado?". Neste mesmo ano, participou do "Festival de Inverno de Ouro Preto", em Minas Gerais. No ano posterior, a cantora mineira Titane gravou em seu CD "Inseto raro", a composição "Torto", parceria de Edvaldo Santana e Haroldo de Campos.
Em 1997, novamente a Revista Áudio News, distribuída nas bancas de todo o Brasil, o incluiu em outra coletânea sua, "Momento MPB", na qual no qual participaram Boca Livre, Chico César, Flávio Venturini, Grupo Batacotô, Vânia Bastos, Almir Sater, a dupla Pena Branca e Xavantinho, Ivan Lins e Rosa Passos. Nesta coletânea participou cantando de sua autoria "Cabeça ocupada".
No ano de 1998, participou da coletânea "Liberdade de expressão". Por essa época, participou do "Projeto Mundão", ao lado de Thaíde, Magic Slin, entre outros.
Lançou em 1999, o CD "Edvaldo Santana", pela gravadora Tom Brasil, no qual prestou homenagem ao guitarrista porto-riquenho Carlos Santana na música "Mestiça" e ainda contou com as participações especiais de Bocato e a cantora Titane. Constam, também, neste mesmo CD, composições suas em parceria com Arnaldo Antunes, Paulo Leminski, Itamar Assumpção e com seu pai, já falecido, Félix de Santana Braga. Ainda sobre esse mesmo disco, vale destacar a apresentação feita por Tom Zé e a capa produzida pelo artista gráfico Elifas Andreato. Neste mesmo ano, apresentou-se no programa "Bem Brasil", da TV Cultura.
Em 2000, Titane regravou "Zensider" (c/ Ademir Assunção) em seu disco "Sá rainha", lançado pelo selo Lapa Discos.
No ano de 2003 lançou o CD "Amor de periferia", do qual participaram Lenine na faixa "O jogador", Zélia Duncan em "Desse fruto", o Quinteto em Branco e Preto em "Batelaje", Nuno Mindelis em "Guilhotina" e o cubano Yaniel Matos tocando piano nas faixas "Choro de outono" e "Cantora de cabaré".
Em 2012 lançou o CD "Jataí", no qual contou com as participações especiais do músico Paulo Lepetit e da cantora Fabiana Cozza.
" (fonte: http://www.dicionariompb.com.br/edvaldo-santana/dados-artisticos)

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domingo, 13 de abril de 2014

Eveline Hecker - Ponte Aérea (2003)

Neste disco está a canção Polonaise. Trata-se de um poema do poeta polonês Adam Micéiewicz, traduzido (trans-criado) por Leminski e música posteriormente por José Miguel Wisnik. O poema aparece como epígrafe do livro Polonaise, de Leminski, cujo título e alguns poemas lembram a sua ascendência "polaca". Curiosamente, Adam Micéiewicz é contemporâneo do compositor polonês Chopin, ícone da dança em forma ternária, a polonaise.
Um pouco mais sobre o disco:

"Uma ponte entre Rio e São Paulo. Uma ponte entre o reconhecido e o desconhecido. Foi assim que chegou aos meus ouvidos o trabalho de Eveline Hecker, Ponte Aérea, lançado pela Biscoito Fino. A moça, antiga vocalista de Tom Jobim, saboreia cada acento das composições de José Miguel Wisnik, seu amigo e parceiro de longa data e sobre o qual Beth Carvalho, num determinado momento, afirmou que estava para Eveline assim como Nelson Cavaquinho estava pra ela. "Parecia que eram parceiros pela afinidade musical". Creio que Beth estava certa, este conjunto, que transcende ao disco, faz com que o trabalho mereça ser saboreado com calma e atenção.

Eu, que não a conhecia, deslumbrei-me com o tom intimista e a primazia do instrumental que valoriza esse traço. O timbre lembra Mônica Salmaso. Sutil, como o das damas da bossa, faz com que a voz aveludada caminhe de braços dados com cada tecla do piano tocado por Wisnik. A música que dá título ao disco é um bom exemplo disso, uma divisão perfeita faz com que os tons vocais preencham qualquer lacuna instrumental que poderia existir. Os acordes têm bastante de bossa, mas muito da música portuguesa também. Traço que confere melancolia em vários instantes. Sensação brevemente quebrada pelo samba marcadinho, "Comida e Bebida", anteriormente gravado por Elza Soares, mas logo retomada numa segunda audição já detentora de um novo olhar. No bis, o melancólico foge, ou acentua-se, no samba, "Viúvo"/"O Tempo Não Apagou", onde Paulinho da Viola é citado. Eveline, que já trabalhou com Beth Carvalho e atuou durante seis anos no grupo Arranco, mostra que conhece o tom do samba. Bem acompanhada por Maurício Carrilho (violão), Pedro Amorim (bandolim), Luciana Rabello (cavaquinho), entre outros, mostra novamente um casamento perfeito.

Escrevo ainda em estado de êxtase, mas sem propriedade para delinear a amplitude do trabalho. Gostei, gostei muito. Creio que este texto mereça a ser reescrito daqui um mês, um ano, pois como Zeca Assumpção afirmou, "Poderemos contar e cantar com ele mesmo em um futuro ainda distante. Penso que estará forte ainda".

Ponte Aérea - Eveline Hecker
Composições de José Miguel Wisnik
Produção: Zeca Assumpção
Gravadora: Biscoito Fino

Músicos:
Piano: José Miguel Wisnik
Sampler e teclados: Sacha Amback
Percussão: Marcos Suzano / Marcelo Costa / Celsinho Silva
Baixo acústico: Zeca Assumpção
Violão: Maurício Carrilho / Ricardo Silveira / Mário Adnet
Violão 7 cordas: Luiz Otávio Braga
Bandolim: Pedro Amorim
Cavaquinho: Luciana Rabello
Cello: Jaques Morelenbaum
Viola e Violão 12 cordas: Luiz Brasil"

(fonte: Tatiane Marchesan, 
http://www.brasileirinho.mus.br/artigos/evelinehecker.html)

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domingo, 6 de abril de 2014

O Poeta da Face Pop - O Estado do Paraná, 06/06/1999

Com Jorge Mautner (foto: Orlando Azevedo)
Paulo Leminski não sabia cantar. Desafinava. Era desarmonioso. Mas a música era uma de suas paixões e com ela ganhou visibilidade nas gravações de Caetano, Paulinho Boca de Cantor, Blindagem, Angela Maria, Ney Matogrosso, Zizi Possi, José Miguel Wisnik, Itamar, Suzana Salles, Guilherme Arantes, Carlos Careqa, Cor do Som, Moraes Moreira e a lista segue.
Foi com Gil e Caetano, aliás, que Curitiba descobriu, ou admirou Paulo com os olhos. Gilberto Gil, no entanto, nunca gravou música do poeta curitibano. O que pensa em fazer, até mesmo para corrigir um erro. [1] No livro todas as letras, de Carlos Renó, lançado pela cia das letras, aparece a composição “Oxalá”, como sendo de Gil. Na verdade, a letra é de Paulo com música de Moraes Moreira.
A verve musical do autor de “Catatau” começou com seu irmão Pedro [2], que se suicidou em 18 de julho de 1986. Com pedro aprendeu a tocar violão, fez parcerias em várias canções e criou o trio Duas Pauladas e uma Pedrada formado por Paulo Leminski e Paulo Vítola [3] (as duas pauladas) e Pedro (a pedrada).
Para o poeta Décio Pignatari, a face musical de Paulo é mera decadência poética. Uma espécie de deslumbramento que aos concretistas soa como traição à imagem do garotão de dezoito anos que foi ter com eles em Belo Horizonte, na Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, realizada em agosto de 1963.
Paulo Leminski, contudo, gostava tanto de música que adotou o compositor Lápis (Palminor Ferreira, falecido há 21 anos) como primo. E assumia o parentesco com tanta honestidade que só agora, com a pesquisa do jornalista Toninho Martins Vaz, soube-se da ausência de qualquer parentesco entre eles. Paulo depois ficou primo de Alexandre “Grafite” Ferreira, filho de lápis e também compositor, hoje morando na Bélgica. No show melhor produzido de grafite, Paulo sentava-se na primeira fileira do teatro e sorria, orgulhoso, quando Grafite o chamava de primo. Havia um certo brilho nos olhos daquele expectador e um sorriso meio maroto escondido atrás do bigode, que só agora se compreende a razão. Paulo sabia que não eram primos, mas adorava a ideia de sê-lo.
Primo mesmo, da raiz da negritude de Paulo, é o compositor e maestro Waltel Branco. Assim, supunha-se que Waltel era primo de Lápis. Mas até mesmo o maestro sustentava a mística, até que para um livro biográfico a verdade precisava ser estabelecida. No entanto, escolhemos amigos, compadres e manos pela vida, o poeta também fez essas escolhas e, original, também escolheu os primos que quis.
A chamada “Casa Branca”, um reduto nas Mercês artístico-residência onde transitou e morou músicos do conjunto A Chave, a artista Marília Guasque, o diretor de arte Toninho Stinghen, que editava textos de Paulo nas revistas da Grafipar (os dois também vivendo seus “perhapiness” em outros astrais, era um dos espaço em que Paulo sentia-se à vontade para mostrar seus dotes musicais). Depois, ao conhecer o artista Rettamozzo, também chegado ao pop, passou a ensaiar em sua residência, às vezes com músicos do Blindagem.
Depois de “descoberto” por Caetano, passou a receber em sua casa, aquela de madeira na Cruz do Pilarzinho, uma penca de cantores e compositores. Sabe-se lá se sua centelha pop não contaminou Arnaldo Antunes? [4] E seu prazer pela palavra não levou Caetano a escrever um livro?
O trânsito de Paulo Leminski pela palavra e pela música, de qualquer forma, é uma constância muito forte. Na primeira edição do Perhapiness, que em agosto fará 10 anos, a fase musical do poeta não foi esquecida e um inesquecível show inaugurou o espaço que leva seu nome, Pedreira Paulo Leminski.
No decorrer dos anos, o Perhapiness (este neologismo foi criado por Paulo) deu de esquecer a musicalidade. Falo, pois, com Margarita Sansone, presidente da fundação cultural de Curitiba, entidade que criou o evento em homenagem ao poeta. Como será este ano de dez anos? Nem falo de música na pergunta, não quero dizer reduzidos para não ofender, no campo elitista. Mas o nosso Paulo Leminski soube fazer uma ponte entre duas facetas, a do intelectual e a do músico popular e conseguiu surpreender nas duas.
Mas o Perhapiness deste agosto irá contemplar as duas faces? “O carinho por Paulo Leminski é grande, mas vamos fazer a homenagem dentro dos limites da nossa pobreza. Pensamos em usar o Teatro Paiol para um espetáculo de música e declamação, com a participação interativa da plateia”. A Pedreira Paulo Leminski, que comporta até 40 mil pessoas (o Paiol é uma espécie de teatro de bolso), requer, conta Margarita Sansone, participação da iniciativa privada para promover um bom espetáculo.
Portanto, a homenagem à face pop do poeta vive dias incertos.

NOTAS (nossas):

[1] Na verdade, Gil chegou a gravar Oxalá, mas a mesmo não foi lançada à época, em 1982, por conta de reformulações do disco que estava para lançar. Em 2002, essa gravação veio à publico, no disco To Be Alive Is Good (Anos 80).
[2] De fato, a experiência com a música começou, para Leminski, já na sua infância, com o canto gregoriano, no tempo em que foi interno do Mosteiro de São Bento, em São Paulo. Mais tarde, ele atribuiria o bom ornato das suas linhas melódicas a este período.
[3] Corrigindo, o trio era formado por Paulo Leminski, Paulo Bahr (“Psico”) e Pedro Leminski.
[4] Vale a pena dar uma olhada neste depoimento, das palavras do próprio Arnaldo, a respeito da influência de Leminski sobre a sua obra:
https://www.youtube.com/watch?v=ix4Mho07AkM&feature=relmfu