segunda-feira, 29 de abril de 2013

Por Itamares Nunca Dantes Navegados


Texto de apresentação do disco de Itamar Assumpção,
intercontinental! quem diria! era só o que faltava!!!, de 1988.


POR ITAMARES NUNCA DANTES NAVEGADOS

Paulo Leminski

O último dos independentes se rende. Rende-se? Qual a diferença entre o Itamar dos bravos tempos em que o Nego Dito, seu sósia e heterônimo, máscara e personagem, às próprias custas, gravava seus fundamentais "Beleléu", "Às Próprias Custas" e "Sampa Midnight", proezas só saboreadas por uns poucos que tinham acesso a essas iguarias cozinhadas por um dos mais inventivos músicos brasileiros dessa virada do século e do milênio, e este, por fim, apenas, "Itamar Assumpção", que começa a navegar sob as bússolas e estrelas de uma gravadora?
Só quem não conheça a extraordinária coerência criativa de Itamar poderia imaginar que este Itamar não é aquele ou que aquele não é este que ora se apresenta.
Desde o princípio, esse paulista de Tietê, meio paranaense de Londrina onde atacou de teatro, na melhor faze teatral da cidade, sempre colocou sua produção sob o signo da marginalidade, marginalidade inscrita no próprio personagem-máscara do Nego Dito, vulgo Beleléu, dupla ou tripla marginalidade.
Marginalidade enquanto negro da sociedade brasileira, onde toda uma raça que construiu o Brasil foi despejada e despedida do emprego com uma tragicômica "Abolição".
Marginalidade de músico – sobretudo – de músico de vanguarda, de uma vanguarda onde a extrema criatividade nunca esteve afastada da mais ampla e funda capacidade de comunicação, uma vanguarda popular. Por fim, marginalidade de consumo, Itamar tendo sido um dos nomes mais fortes naquilo que se chamou "produção independente", fonte de toda uma renovação da MPB, viciada em esquemas fáceis e repetitivos de pronta aceitação e imediato esquecimento.
Que Itamar pega na veia, ninguém duvida. A extrema sofisticação de sua música e de sua poesia procura as inteligências mais exigentes e puras e as encontra, como vai encontrar neste primeiro LP às custas de outros, que já era hora.
Muito mais gente merece ouvir os 24 quilates desse artista idem. Afinal, Itamar depende ou independe? Depende.

domingo, 28 de abril de 2013

Moraes Moreira - Mancha de Dendê Não Sai (1984)

OK, esse disco é sensacional! Sendo assim e como estou empolgado, vou me estender um pouco nos comentários.
Lançado em 1984, o disco inicialmente despertou nosso interesse porque tem uma parceria com Leminski, Mancha de Dendê Não Sai. Atentem, essa faixa, que abre o lado B, é a mesma que da nome ao Lp. Aqui Moraes segue na sua linha bem brasileira, mesclando gêneros, distribuídos por todo o disco. Podem-se ouvir sambas, frevos, maracatus, marchinhas, baiões etc.
Politizado, trata de questões como a expropriação dos recursos naturais do "Brasil" por parte do velho continente. É ocaso de Cordão de Ouro. Brasil com aspas, porque quando foi colonizada a região onde hoje é o Brasil não tinha esse nome, é claro. O nome "Brasil" veio a partir da exploração do pau-brasil, que, por sua vez, tem esse nome poque tem a cor de brasa.
A elite europeia "se pirava" com a cor vermelha. A faixa Índio Indo lembra da violência sofrida pelos índios que viviam em solo tupiniquim, quando chegaram os europeus.
Achei interessante uns versos de Carro Alegórico, que me lembraram o "trocadilho" de um poema de Leminski. A letra da canção: "A rosa ainda é/Uma mania/Agrada o grego/E agrada a negra". E o poema de La Vie En Close: "nu como um grego/ouço um músico negro/e me desagrego."
Difícil é qualificar Mancha de Dendê Não Sai, não que eu ache que se deve qualificar tudo, mas é legal buscar influências. Pra mim, essa música é o que alguns chamam de maracatufunk. Se o ritmo se aproxima muito do funk americano, ao bom estilo James Brown, sua orquestração, de uma percussividade eletrônica saliente, bem década de oitenta mesmo, lembra os experimentos da banda Tears For Fears. Como exemplo ouçam a batida de Give It Up Or Turnit A Loose, de J. Brown e Start Of The Brakdown, do Tears, esta última, aliás, com um solo de percussão bastante próximo ao solo de Mancha... Não bastasse tudo isso, tem aquele lance de "um maracatu pra tu", do final da letra, que é o que nos remete ao maracatu. Além de toda a percussão, é claro. Por outro lado, o balanço, a letra, a melodia mole, em quartas, e o próprio ritmo, pensando em alguns acentos, estão mais pra uma capoeira do que pra qualquer outra coisa. Só faltou o berimbau. É uma briga contra a mancha, cai ou não cai, maninha? No final a mancha fica de pé (mas não desmancha prazer)! Existe uma outra gravação de Mancha, no disco 50 carnavais, que desenhará melhor toda essa mistura. Na primeira seção, o agogô segue a linha bem característica do maracatu. Já na segunda seção, aparece o ritmo bem claro do berimbau, feito pelo baixo e pela guitarra.
Cansei. Resumindo, é uma bela música, talvez a melhor da dupla Moraes/Leminski. Quem puder, ouça.

lmsk (mp3 + imagens)

a música no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=04Tk6AMIuOQ

domingo, 21 de abril de 2013

Moraes Moreira - Mestiço É Isso (1986)

Esse é um disco que realmente vale a pena ouvir por completo. Dele participam vários artistas, entre eles Gilberto Gil e Caetano Veloso. De Leminski, parcerias com Moraes, constam Desejos Manifestos e Morena Absoluta. Me agrada muito a primeira, que pode ser considerada um ijexá-canção, Desejos Manifestos. Pra mim uma das parcerias mais felizes da dupla Moraes/Leminski. Um pedaço da letra: "Ai de ti que não tem, meu amor, olhos pra enxergar tanta paixão." É, como diz o ditado, o que os olhos não veem o coração não sente (e não mesmo). Portanto, como diria o Guilhermo Del Toro: "Hay que saber donde mirar."
Essa é a única gravação dessa música. Já Morena Absoluta tem duas gravações, além dessa de Moraes, também foi gravada no Lp Optimum in Habeas Coppus, uma produção curitibana, já postada nesse blog (aqui). Trata-se de um samba-de-breque. Muito legal o assobio do final, aquele que carinhosamente subentende-se dizer: "Ei, gostooosa..."
lmsk (link para o blog originalmente postado, apenas o áudio)
lmsk (link para as imagens)

Desejos Manifestos
(Paulo Leminski, Moraes Moreira e Zeca Barreto)

A luz do tempo se apaga
Sou vaga-lume, ilumino
Tem uma face e o destino
Que é de um menino risonho

Tem uma noite que eu vivo
Mas tem um dia que eu sonho
Procuro e acho motivo
Pra esse orgulho tamanho

Ai de quem não faz da falta a festa
Ai de quem não trás no coração
Frases e desejos manifestos
Que desejam manifestação

Ai de ti que não tem, meu amor
Olhos pra enxergar tanta paixão
Chama, corpo, alma, coração
É fogo, é fogo, é fogo, é inspiração

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Blindagem - EP (1983)

Neste EP temos, em cada canção, um personagem feminino diferente. A primeira, Me Provoque Pra Ver, é o caso daquela moça com jeitinho de pura (provocante), e que de tão pura acaba sendo burra. Na segunda canção, Malandrinha, a menina é uma malandrinha e ponto. A propósito, Me Provoque Pra Ver tem a mão do Leminski. Ela também foi gravada num CPS da banda CHAVE, em 1977. Eu prefiro essa primeira gravação, com mais instrumentação e arranjos vocais. Mas, como diria um professor meu, gosto não se discute, se lamenta.
lmsk (mp3 + imagens)

terça-feira, 16 de abril de 2013

MPB4 - Caminhos Livres (1983)

Neste disco temos Baile no Meu Coração, composição de Leminski e Moraes Moreira. Ao meu entender, ela funciona como o carro-chefe de todo o conjunto, que segue nessa mesma linha baião, ritmos embalantes e prafrentex. É a faixa que abre o disco. A gravação do Moraes eu acho bem melhor, arranjo melhor, bem mais orquestrada. Tem ainda uma gravação do grupo português Trovante, que é bacana também, com o violão de Moraes (ele participa da gravação) mais em evidência. Em breve tudo aqui. Eu sempre me lembro, ao ouvir essa música, daquele poema do Murilo Mendes, que diz assim, "o mundo samba na minha cabeça". Não que eu goste mais de samba do que de baião. Só me faz lembrar a bela relação criada entre gêneros e membros, sacadas por Leminski e Murilo.
lmsk (redirecionando pro blog onde foi postando: mp3 + imagens)

domingo, 14 de abril de 2013

Paulinho Boca de Cantor - Cantor Popular (1983)

Neste disco temos a canção Quanto Mais Quente Melhor, pareceria de Leminski com Boca de Cantor e Chico Evangelista. Eu não tenho nada pra falar dela. Só sei que hoje, meio contraditoriamente, começou o frio pra valer  em Curita. Pra mim tá bom.
lmsk (mp3 + imagens)

Moraes Moreira - Pintando o Oito (1983)

Neste disco temos duas parcerias de Leminski com Moraes Moreira. São elas Teu Cabelo e Oxalá (Cesta Cheia da Sexta). Oxalá foi primeiramente oferecida para Gilberto Gil gravar, no seu Lp de 1982. Gil chegou a gravar a música, mas quando fundou a Banda Um optou por reformular o disco e Oxalá foi pra escanteio. Aí o Moraes gravou e lançou neste disco aqui. A gravação de Gil também foi lançada posteriormente, no CD To Be Alive Is Good (anos 80), em 2002. Em Oxalá, homenageia-se o orixá Oxalá. Pra quem não saca nada de mitologia ioruba, como eu, se liga aí: a cor branca e a sexta-feira, citadas na letra, são justamente atribuições do orixá. Ijexá, o ritmo da dita canção, é um ritmo caro ao afoxé Filhos de Gandhy, que, por sua vez, também reverencia Oxalá.
lmsk (mp3 + imagens)

sábado, 6 de abril de 2013

Fortuna - Só (1987)

"Boa noite, prezadíssimos ouvintes!" Venho lhes informar que o motivo desse post é um asterisco. Estranho? Explico. Oficialmente, nesse Lp, não há nenhuma música by Leminski. O fato é que na faixa Prezadíssimos Ouvintes temos um brado leminskiano, assinalado por um asterisco: "microfones jamais falharão." Meu Deus, podia falar tanta coisa da frase. Leminski e o rock, lmsk e massmidia, lmsk e contracultura etc. Mas não vou. Além do grito, o poema "o novo não me choca mais...", publicado em Caprichos & Relaxos, é recitado na referida canção. Ah, Itamar Assumpção também gravou Presadíssimos Ouvintes, aliás,  ele é o produtor desse disco aqui. Legal ouvir as duas gravações. É isso aí!
lmsk (mp3 + imagens)